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As Mulheres que poucos veem

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Há muitas pessoas que ninguém quer acolher, e algumas delas trilharam caminho para tal repulsa. Sim, trilharam o caminho do crime, da injustiça e de levar a dor a outros. Ou seja, como alguns gostam de dizer "eles fizeram por merecer". Porém, outras pessoas não fizeram nada de ruim e não são acolhidas. Um exemplo de nossa cidade são as senhoras do Lar das Vovozinhas.

Ninguém quer acolher idosas pobres, doentes, vulneráveis e abandonadas, sem família ou vínculos familiares na sua grande maioria. Ninguém quer a responsabilidade. Como vão se manter, quem vai cuidar, alimentar, vestir, fazer fisioterapia, curativos, quem? Onde vão ficar, com quem vão ficar?

Elas são mulheres que em sua maioria foram domésticas, trabalhadoras rurais, prostitutas, secretárias, cozinheiras, enfim, elas serviram por enquanto serviam. Depois... Bem, depois ninguém quer. "Ninguém" não, teve sim um senhor que há 74 anos acolheu essas mulheres e todos que chegassem. O tempo passou, ele morreu, mas seu legado não - nem sua missão de acolher. Vieram muitos outros, atualmente a presidente do Lar é a Sra. Leda, e continuaram cuidando.

Porém o mundo mudou. Veio a CLT, vieram os conselhos de classe, o SUS, o Serviço Social , SUAS , as legislações da Vigilância Sanitária; enfim, veio a mudança. Mudanças para melhorar as coisas. Concordo com as mudanças, só esqueceram que as mulheres que ninguém queria envelheceram mais e com a velhice vieram mais doenças; o remédio que era um agora são 6, 10 e, para algumas, 16. Algumas famílias mesmo com dificuldades ajudam a mantê-las, mas e a maioria, que não tem família.

De quem é a responsabilidade do cuidado? Do Estado e da sociedade das famílias, quando elas existem. A sociedade faz a sua parte, mas o Estado. Ninguém quer idosas doentes e senis. Ninguém é responsável. Todo mês é um milagre, milhões de telefonemas, inúmeros pedidos de "favores" como se fosse um favor cumprir a legislação. Os idosos têm um estatuto que parece mais outra legislação a não ser cumprida.

A manutenção de idosas doentes custa muito mais que R$ 1.000,00 (mil reais) mês. os valores, conforme a doença e necessidade de cuidados pode chegar até mais que R$6.000,00 por mês. Uma conta que não fecha, mesmo com a contribuição das asiladas.

Desde outubro de 2020 temos buscados ajuda para enfrentar as dificuldades do Lar. Muitas foram as doações que chegam, mas não pagam salários de profissionais. A sociedade ajuda, mas até ela não consegue dar conta. Estamos pedindo ajuda para apenas 32 mulheres doentes que precisam de cuidados de atenção primária de saúde. Recebemos dinheiro em 2020 e 2021, frutos de projetos de destinação de impostos de renda devido (imposto solidário) e do Governo Federal. Não temos como manter o cuidado das 32 idosas acamadas e 29 com doenças mentais, que precisam de profissionais especializados para sua assistência. Infelizmente a judicialização torna-se o único caminho para este cenário. Elas viveram situações de desamparo e violência e o lar acolheu agora vão ter que viver uma nova situação de mudança. Além de ter que demitir cerca de 50 funcionários que trabalham diretamente no cuidado e assistência das assistidas. É no ano em que a instituição completa 75 anos de existência espero que não seja escrito esta dura página na história do Lar das Vovozinhas.

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